Em comparação com máfias ou grupos ligados ao
tráfico, as que agem nos governos são as que mais preocupam PF
23 de
dezembro de 2012
A
doutrina da Polícia Federal prepara seus agentes para o combate a três classes
do crime organizado. A primeira é a organização de matriz mafiosa, como a dos
contraventores que exploram o jogo do bicho no Rio. "Tem o capo e várias
pessoas que se unem para cometimento de crimes", analisa o delegado Oslain
Santana. "A organização se infiltra nos poderes do Estado. Investe muito
mais em corrupção do que propriamente em violência para se manter no poder.
Veja o exemplo do Carlinhos Cachoeira. Começou com jogo do bicho e foi se
infiltrando no Estado."
A segunda
classificação é relativa aos "grupos agressivos", que adotam ações
armadas. Como as facções que atuam no Rio e em São Paulo. "Esses têm poder
econômico reduzido, comparativamente às demais quadrilhas, e a infiltração no
setor público não é tão enraizada."
A
terceira classe é a que mais preocupa o delegado da PF pelo seu poderio e raio
de atuação. "São as organizações do colarinho branco ou das elites,
pessoas acima de qualquer suspeita, mas que movimentam grandes esquemas. São as
mais perniciosas do ponto de vista da Polícia Federal. Desviam bilhões dos
cofres públicos para benefício pessoal. Tiram dinheiro da educação e da saúde
por meio de violações constantes ao Decreto Lei 201/67 (crimes de prefeitos) e
à Lei de Licitações."
Na
avaliação de Oslain Santana, essa ramificação do crime organizado tem uma linha
de ação diversa das demais. "Às vezes, até usa um pouco da violência, até
queima um arquivo, mas prefere corromper ou contratar uma defesa muito boa. Ela
é estruturada. Causa prejuízo muito maior para a sociedade."
A ousadia
do colarinho branco impressiona o veterano policial. "O mercado de cocaína
no Brasil gira em torno de US$ 5 bilhões a US$ 10 bilhões por ano. Uma única
fraude dessas às vezes tem valor muito maior que todo o tráfico de drogas no
País."
"São
crimes de lesa pátria a corrupção, a sonegação fiscal, os empréstimos
fraudulentos que tiram dinheiro de bancos públicos para interesse de
poucos", afirma Oslain. "Lesa pátria porque tira dinheiro de toda a
coletividade, daquelas pessoas principalmente menos favorecidas que recolhem
tributos e não têm uma contraprestação do Estado com relação à segurança, à
saúde, ao provimento de Justiça."
O
delegado disse que a meta maior da PF é descapitalizar as organizações do
crime. "Se eu tiro o dinheiro daquela organização, eu tiro o seu poder.
Esse é o segredo, sequestrar os bens ilícitos, tirar a motivação do crime e
reverter esse dinheiro para o Estado aplicar na saúde, na educação e na
segurança."
Operações.
Oslain informa que em 2012 a PF desencadeou 19 operações especiais sobre
desvios de recursos públicos. Foram presos 128 investigados, entre secretários
de Estado, prefeitos e servidores públicos, e cumpridos 63 mandados de condução
coercitiva e 340 de busca e apreensão. Os valores desses contratos sob suspeita
chegam a R$ 585 milhões.
Na região
de Montes Claros, no norte de Minas, a PF identificou fraudes em negócios da
administração que somavam cerca de R$ 150 milhões. "As provas são
robustas. Raramente falha uma operação dessa natureza, com prisão de prefeitos
e secretários, porque é muito difícil que sejam inocentados na Justiça. As
provas são colhidas sempre com autorização judicial."
Outra
operação significativa, segundo o delegado, ocorreu na cidade de Presidente
Keenedy, Espírito Santo. Um município rico porque recebe altos valores dos
royalties do petróleo. "Houve um desvio muito grande ali. Foram R$ 56
milhões de prejuízo. Prendemos 28 e cumprimos 51 mandados de busca e
apreensão." / F.M.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.