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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Diálogos gravados revelam despreparo de operadores para lidar com apagão



Transcrição de relatórios da Aneel e do ONS mostra tensão dos técnicos durante o blecaute ocorrido no Nordeste em fevereiro de 2011 
23 de dezembro de 2012 | 22h 30
Alana Rizzo e Iuri Dantas, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Diálogos inéditos entre operadores do sistema elétrico revelam o despreparo das subestações e dos centros de controle para enfrentar interrupções no fornecimento. As transcrições constam dos relatórios da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema (ONS), obtidos pelo ‘Estado’ por meio

Elas mostram o "sufoco" dos técnicos durante o apagão de fevereiro do ano passado, que deixou oito Estados do Nordeste sem luz por horas. À época, o governo Dilma Rousseff atribuiu o apagão a um defeito ocorrido em uma placa eletrônica.
Nos minutos seguintes ao blecaute, os técnicos batiam cabeça. Faltou energia para abrir um portão e assim conseguir religar alguns equipamentos. Foi preciso quebrar a fechadura, atrasando a solução.
A subestação desconhecia como proceder e foi preciso ir atrás do manual de instruções em cima da hora. "É porque a gente tem que pegar o guia aqui porque não tem como acessar, aí estamos pegando o guia do normativo aqui e vamos fazer com ele", completa.
Quando o abastecimento de todo o Nordeste dependia apenas da abertura de uma chave, como previa o guia de operações, os técnicos envolvidos discutiam se, em vez de abrir como previa o rito normal, não era melhor fechar essa mesma chave. "Tá dependendo tudo, tem risco até de inundação na usina IV, tem que fechar", respondeu o Centro de Operações.
‘Funciona não’
Duas horas depois de iniciado o apagão, o Centro Regional de Operações (Crop) da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) questionou o técnico da subestação de Sobradinho se lá havia um equipamento chamado mesa de sincronismo. "Funciona não... Vou chamar um rapaz para ver se liga ela, muitos anos sem ligar, viu, chamo você depois", foi a resposta.
O relatório da Aneel lista as irregularidades. Além do portão travado, aparelhos fora de operação, disjuntores fechados, discrepâncias no sistema de supervisão e controle e dificuldade de acesso aos procedimentos operacionais para a recomposição da instalação.
A placa que apresentou defeito dando origem ao apagão deveria ter sido substituída quatro anos antes, informam os relatórios. Responsável pela fiscalização das concessionárias, a Aneel não verificou se o equipamento fora efetivamente trocado. Tampouco sabia que duas usinas não tinham a máquina para religamento automático, para casos como aquele. Ao final, coube à agência reguladora pôr no papel o relato de uma sucessão de problemas facilmente evitáveis. Os erros renderam à Chesf uma multa de R$ 32 milhões.
Proteção
Segundo os documentos liberados pela Aneel, a "perturbação" no Sistema Interligado Nacional começou às 0h08 do dia 4 de fevereiro de 2011, quando o sistema de proteção desligou automaticamente a linha de transmissão (LT) entre as subestações de Luiz Gonzaga e Sobradinho. O caso teria se encerrado aí, "caso a falha descrita não fosse acompanhada de procedimentos inadequados de operação das equipes de tempo real da Chesf."
Mesmo depois de tomar as medidas necessárias e religar a linha de transmissão, a energia não voltou. Segundo a Aneel, as equipes "disponibilizaram a LT 500 kV Luiz Gonzaga-Sobradinho, sem no entanto retirar o bloqueio da linha, impossibilitando a reintegração da linha à operação, atrasando o reestabelecimento do sistema".
da Lei de Acesso à Informação.

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