Transcrição de relatórios da Aneel e do ONS mostra
tensão dos técnicos durante o blecaute ocorrido no Nordeste em fevereiro de
2011
23 de
dezembro de 2012 | 22h 30
BRASÍLIA
- Diálogos inéditos entre operadores do sistema elétrico revelam o despreparo
das subestações e dos centros de controle para enfrentar interrupções no
fornecimento. As transcrições constam dos relatórios da Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel) e do Operador Nacional do Sistema (ONS), obtidos pelo
‘Estado’ por meio
Elas
mostram o "sufoco" dos técnicos durante o apagão de fevereiro do ano
passado, que deixou oito Estados do Nordeste sem luz por horas. À época, o
governo Dilma Rousseff atribuiu o apagão a um defeito ocorrido em uma placa
eletrônica.
Nos
minutos seguintes ao blecaute, os técnicos batiam cabeça. Faltou energia para
abrir um portão e assim conseguir religar alguns equipamentos. Foi preciso
quebrar a fechadura, atrasando a solução.
A
subestação desconhecia como proceder e foi preciso ir atrás do manual de
instruções em cima da hora. "É porque a gente tem que pegar o guia aqui
porque não tem como acessar, aí estamos pegando o guia do normativo aqui e
vamos fazer com ele", completa.
Quando o
abastecimento de todo o Nordeste dependia apenas da abertura de uma chave, como
previa o guia de operações, os técnicos envolvidos discutiam se, em vez de
abrir como previa o rito normal, não era melhor fechar essa mesma chave.
"Tá dependendo tudo, tem risco até de inundação na usina IV, tem que
fechar", respondeu o Centro de Operações.
‘Funciona
não’
Duas
horas depois de iniciado o apagão, o Centro Regional de Operações (Crop) da
Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) questionou o técnico da
subestação de Sobradinho se lá havia um equipamento chamado mesa de
sincronismo. "Funciona não... Vou chamar um rapaz para ver se liga ela,
muitos anos sem ligar, viu, chamo você depois", foi a resposta.
O
relatório da Aneel lista as irregularidades. Além do portão travado, aparelhos
fora de operação, disjuntores fechados, discrepâncias no sistema de supervisão
e controle e dificuldade de acesso aos procedimentos operacionais para a
recomposição da instalação.
A placa
que apresentou defeito dando origem ao apagão deveria ter sido substituída
quatro anos antes, informam os relatórios. Responsável pela fiscalização das
concessionárias, a Aneel não verificou se o equipamento fora efetivamente
trocado. Tampouco sabia que duas usinas não tinham a máquina para religamento
automático, para casos como aquele. Ao final, coube à agência reguladora pôr no
papel o relato de uma sucessão de problemas facilmente evitáveis. Os erros
renderam à Chesf uma multa de R$ 32 milhões.
Proteção
Segundo
os documentos liberados pela Aneel, a "perturbação" no Sistema
Interligado Nacional começou às 0h08 do dia 4 de fevereiro de 2011, quando o
sistema de proteção desligou automaticamente a linha de transmissão (LT) entre
as subestações de Luiz Gonzaga e Sobradinho. O caso teria se encerrado aí,
"caso a falha descrita não fosse acompanhada de procedimentos inadequados
de operação das equipes de tempo real da Chesf."
Mesmo
depois de tomar as medidas necessárias e religar a linha de transmissão, a
energia não voltou. Segundo a Aneel, as equipes "disponibilizaram a LT 500
kV Luiz Gonzaga-Sobradinho, sem no entanto retirar o bloqueio da linha,
impossibilitando a reintegração da linha à operação, atrasando o
reestabelecimento do sistema".
da Lei de Acesso à Informação.
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