Uma mesma pergunta foi feita às administrações de 133 cidades a respeito da contratação de funcionários de confiança. Apenas 16 responderam
por Mariana Haubert | 13/07/2012
por Mariana Haubert | 13/07/2012
No site
da prefeitura de Novo Hamburgo, as informações sobre transparência pública
aparecem com destaque
Com a
entrada em vigor da Lei de Acesso a Informação, há quase dois meses, era de se
esperar que os órgãos públicos estivessem mais atentos às novas regras, e
sobretudo, se mostrassem mais abertos à nova cultura da transparência. No
entanto, a situação nos municípios brasileiros é preocupante. Um levantamento
inédito, realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji) e divulgado com exclusividade pelo Congresso em Foco, mostrou
que, de 133 cidades com mais de 200 mil habitantes, apenas 16 foram capazes de
responder a um simples pedido de informação.
Para
fazer o Mapa do Acesso 2012, a mesma pergunta foi feita a todas as prefeituras
e ao Distrito Federal: quem são, quanto recebem e que cargos ocupam todos os
funcionários que foram indicados pelo poder Executivo local. São pessoas que
estão em postos de chefia, direção ou assessoria, e que não precisam,
necessariamente, fazer concurso público para assumir o cargo. Elas são
indicadas e podem ser exoneradas a qualquer momento.
As
cidades que responderam foram: Brasília (DF), Londrina (PR), Cariacica (ES),
Caucaia (CE), Sorocaba (SP), Serra (ES), São Carlos (SP), Florianópolis (SC),
Blumenau (SC), Novo Hamburgo (RS), Belo Horizonte (MG), Taubaté (SP),Campinas
(SP), Curitiba (PR), Caxias do Sul (RS) e Porto Alegre (RS).
Segundo a
coordenadora do projeto, Ivana Moreira, a lei é apenas um passo. “A luta de
toda a sociedade brasileira agora é no sentido de fazer a lei pegar, ou seja,
pressionar os governos para quem cumpram as novas regras”. Ela já esperava que
os municípios demonstrassem dificuldade em responder à pergunta. “A experiência
do Mapa do Acesso nas edições anteriores mostrou que a esfera municipal é
sempre a de respostas piores. Enquanto no nível federal já existe um
comprometimento com a política de transparência, nos municípios, mesmo na
capital, não existe nem a cultura nem o investimento nas ferramentas que
facilitam o acesso”, disse ao Congresso em Foco.
O que
impressionou, porém, foram as respostas para as negativas. “Apesar de não
termos nos surpreendido com os números, as alegações para não prestar as
informações é que foram chocantes. Isso é preocupante porque mostra que o
agente público não trabalha em prol do cidadão. Existe uma cultura de controle
da informação. Como se o governo fosse uma instituição privada que só presta
satisfação aos seus acionistas – no caso, os membros do próprio governo”,
disse.
Proibidos
pelos prefeitos
Alguns
secretários e assessores chegaram a dizer que tinham consciência sobre a nova
legislação que preza pela transparência, mas que estavam proibidos pelos
prefeitos de passar tais informações. Segundo registrou o levantamento, a
prefeitura de Betim, em Minas Gerais, informou que, em ano de eleição, a
informação requerida não podia ser prestada sem antes ser dada uma explicação
ao secretário sobre como e qual a necessidade de divulgar tais dados.
Já um
secretário da prefeitura de Gravataí, no Rio Grande do Sul, trocou e-mails com
uma das pessoas que ajudaram no levantamento dizendo estar “realmente curioso
em saber (sic) para que vão lhe servir os nomes [escrito em caixa alta] de
pessoas que residem tão longe do alcance de tal rádio”. Em Petrópolis, no Rio
de Janeiro, foi informado que o levantamento de todos os servidores da
prefeitura demoraria um ano e que tal solicitação poderia ser feita novamente
no final deste ano, quando “talvez” já fosse possível responder ao pedido.
As
prefeituras foram questionadas em dois momentos. No primeiro, foi informado que
os dados solicitados seriam usados em reportagem. No segundo, foi dito que as
informações seriam utilizadas para consolidar o levantamento. De acordo com a
Abraji, a metodologia adotada é uma forma de perceber se os órgãos públicos
entendem que o acesso a informação é um direito de todos ou se fornecem o que
foi pedido de acordo com a finalidade do uso de tais dados.
As
respostas consideradas satisfatórias foram aquelas em que os órgãos realmente
enviaram planilhas com as informações requeridas. Grande parte das administrações,
no entanto, omitiu o nome dos funcionários, que foram identificados apenas pelo
número de matrícula. Também foram consideradas satisfatórios os casos em que a
prefeitura já havia publicado os dados em seu site ou em seu Portal da
Transparência.
A
informação não vem mastigada
Mesmo no
caso das cidades que a Abraji considerou que responderam à pergunta solicitada,
a resposta não veio necessariamente com o grau de detalhamento e clareza ideal.
Nada como uma lista única contendo nome, cargo e remuneração completa, no
formato recomendado pela presidenta Dilma Rousseff no decreto que regulamentou
a Lei de Acesso. A prefeitura de Novo Hamburgo (RS), por exemplo, possui todas
as informações pedidas, mas não num único arquivo.
Em ponto
destacado da página inicial do site de Novo Hamburgo, no alto da coluna à esquerda,
há com destaque um link para a Lei de Acesso à Informação. Ali, além de
detalhes sobre a lei, há explicações ao cidadão sobre como pode fazer um pedido
de informações. No canto direito da página inicial, há um link, também
destacado para o Portal da Transparência. E,
ali, numa coluna à esquerda, encontra-se o link para todas as informações sobre
a folha de pessoal da prefeitura.
Mas elas estão em quatro arquivos diferentes. Um tem a lista de todos os
servidores municipais. Outro tem a lista de cargos com seus respectivos
salários. Um terceiro define o padrão salarial de cada carreira. E o último as
vagas ocupadas. Para, portanto, saber quem são os funcionários e quanto cada um
deles ganha é preciso cruzar os dados das quatros listas.
É
relativamente fácil, porém, saber, de acordo com as informações, que o prefeito
de Novo Hamburgo, o petista Tarcísio Zimmermann, recebeu R$ 16,5 mil por mês
para administrar a cidade.
Histórico
do mapa de Acesso
Este é o
quinto Mapa do Acesso que a Abraji realiza, e o primeiro durante a vigência da
Lei de Acesso a Informação. Os objetivos dos estudos são medir o grau de acesso
a informação no país e verificar a aceitação da legislação vigente como argumento.
Os
levantamentos são sempre realizados em duas fases. Na primeira, as informações
que deveriam ser de domínio público são solicitadas por um repórter sem
mencionar o estudo. Na segunda fase, as mesmas informações são novamente
solicitadas, exceto se já tiverem sido respondidas anteriormente. Neste
momento, os pesquisadores informam que elas embasaram um estudo da Abraji e
citam a legislação vigente.
Em 2007,
a associação questionou 120 órgãos dos três poderes no âmbito estadual. Apenas
5,8% dos órgãos responderam completamente. Outros 40% enviaram respostas
parciais e mais da metade não respondeu nada. A região Sudeste foi a menos
transparente, sendo que no Rio de Janeiro nenhum dos órgãos atendeu à demanda.
No Nordeste, todos os estados deram algum tipo de resposta.
No ano
seguinte, o estudo abarcou os poderes Executivo e Legislativo das 26 capitais.
Ao todo, 52 órgãos foram contatados. Foram solicitados os salários dos
prefeitos e secretários municipais, além da relação dos vereadores e chefes de
gabinete. Foi pedido também o valor gasto com verba de representação nos
últimos quatro anos nas câmaras e nas prefeituras. Neste caso, mais de 85% dos
órgãos não respondeu.
Em 2009,
a Abraji quis saber quem eram os ocupantes de cargos efetivos e comissionados
com os respectivos salários na Presidência da República, na Câmara dos
Deputados e no Senado, no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de
Justiça. Apenas o STF respondeu de forma completa ao questionamento. A
Presidência informou parcialmente suas informações e os demais órgãos não deram
qualquer tipo de resposta.
Em 2010,
os poderes Executivo e Legislativo estaduais voltaram a ser testados devido a
entrada em vigor da Lei Complementar 131, conhecida como Lei da Transparência,
que obriga União, estados e municípios com mais de 100 mil habitantes a
divulgar informações sobre a execução orçamentária. Foram questionados os
valores gastos com diárias de viagem pagas ao governador e aos titulares das
secretarias, os valores gastos com publicidade pela Secretaria de Governo e o
quanto se gastou com verba de representação de parlamentares. Todos os dados
foram pedidos no período entre 2007 a 2009. Mesmo com uma lei mais específica
em vigor, 60% não respondeu e o restante deu respostas incompletas.
No ano
passado, as secretarias de Segurança Pública e de Justiça também voltaram a ser
testadas. Foram perguntados quantos detentos estavam nas unidades prisionais e
o quanto se gastou com cada uma das unidades, durante os anos de 2007 a 2010.
Mais da metade dos estados, 14 deles, deram respostas insatisfatórias. Os
outros, simplesmente ignoraram as solicitações.
O Mapa do
Acesso 2012 será apresentado neste sábado (14) no 7º Congresso
Internacional de Jornalismo Investigativo, em São Paulo.
Esta matéria é do site: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/municipios-brasileiros-nota-zero-em-transparencia/ |
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