21 de
janeiro de 2013
Por
falhas de planejamento, ineficiência de estatais e crônica incapacidade do
governo de reagir com presteza aos problemas, empreendimentos privados que
deveriam ser vitais para regularizar o fornecimento de energia elétrica -
sobretudo em períodos de incertezas sobre a geração hidrelétrica, como o atual
- não produzem o resultado desejado e ainda impõem ônus financeiros aos
consumidores. Chegou-se à situação absurda na qual, quanto maior o êxito desses
empreendimentos, maiores as perdas para o País em termos energéticos e maiores
os custos para a população.
É o que
mostra a situação dos parques eólicos concluídos desde meados do ano passado e
dos que serão concluídos em 2013. No Rio Grande do Norte e na Bahia estão
prontos 26 parques, com potência instalada de 622 megawatts (MW) e há outros
seis em fase de conclusão no Ceará, com potência de 186 MW. Mas nada se produz,
porque não há como transmitir a energia para os centros consumidores.
O
problema ficará ainda mais grave ao longo de 2013. Está prevista a conclusão,
neste ano, de mais 50 projetos de geração eólica, com potência de 1,4 mil MW.
Isso representa 16% da capacidade instalada prevista para entrar em operação em
2013, de 9 mil MW (incluindo todas as formas de geração). Também essa energia
não será gerada pelos parques eólicos porque, como a que podia estar sendo
gerada desde o ano passado, não tem como ser levada aos consumidores.
O
descasamento dos cronogramas das obras das usinas geradoras e das linhas de
transmissão, já notório no sistema hidrelétrico - a Usina de Santo Antônio, no
Rio Madeira, ficou pronta para operar cinco meses antes do prazo, mas sua
produção não chega aos centros de consumo, porque as linhas de transmissão só
ficarão prontas neste ano -, é particularmente grave no caso da energia eólica.
Por todas
as suas vantagens ambientais - utiliza fonte renovável, não polui e tem
pouquíssimo impacto sobre o meio ambiente -, a energia eólica vem sendo
apontada como a mais adequada para o abastecimento no futuro e sua utilização
tem crescido no mundo. No Brasil, empresas nacionais e estrangeiras têm feito
grandes investimentos no setor, e os resultados só não são mais notáveis porque
parte do que se produz, ou se poderia produzir, não tem como chegar aos centros
de consumo.
Neste
período em que os reservatórios das usinas hidrelétricas estão com o nível
muito baixo, forçando a utilização das usinas termoelétricas - de custo
operacional bem mais alto e impacto ambiental maior do que o de outras fontes
-, a energia gerada pelas eólicas do Nordeste, se já contasse com as linhas de
transmissão, seria muito bem-vinda pelos gestores do sistema elétrico nacional
e, sobretudo, pelos consumidores.
Ironicamente,
a potência das eólicas paradas é equivalente à da usina termoelétrica de
Uruguaiana, de 639 MW, que o governo às pressas tenta recolocar em operação -
estava desativada desde abril de 2009 - para compensar a redução das operações
das hidrelétricas devido ao baixo nível dos reservatórios. Também por ironia, a
tentativa do governo de acionar essa termoelétrica esbarra em sua
incompetência: por problemas de planejamento e de burocracia, não está
conseguindo fazer chegar o combustível à usina - o gás natural liquefeito
procedente da Argentina.
O que
impede o pleno funcionamento das eólicas também é mau planejamento. Um programa
adequadamente planejado decerto não resultaria no descompasso entre a obra de
geração e a de transmissão. A empresa que venceu a licitação das linhas de
transmissão alega questões ambientais e de proteção do patrimônio para justificar
o atraso. Como previsível, trata-se de uma estatal, a Companhia Hidro Elétrica
do São Francisco (Chesf), controlada pela Eletrobrás. Algumas linhas estão com
seu cronograma atrasado em 6 meses; outros, em até 17 meses.
Contratualmente,
as empresas geradoras são remuneradas desde o momento em que estão aptas a
gerar energia, independentemente de ela estar sendo gerada ou não. Assim,
paga-se por uma energia que não chega ao consumo. E neste ano se pagará mais,
pois mais energia deixará de ser transmitida.
Matéria do Estadão
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